Para o Tempo: Dai-me tempo

Fiquei ansiosa para escrever essa carta, porque de todas as outras, você é a única que realmente não mente. 

Você tem sua complexidade, é fato. 

Seria difícil para algumas pessoas entender o seu significado, seu valor e sua importância. 

Mas conforme os anos se passaram, eu comecei à entender o quão você passa depressa (mesmo que prematuramente) e o quanto somos tolos por não saber aproveitar cada segundo de você.


Tempo, apesar de você ser rígido demais com seu passar, eu te considero o melhor (dos melhores) artistas.

Da Vinci pintou a Monalisa.

Van Gogh pintou Noite Estrelada. 

Mas você, Tempo, é responsável por traçar momentos que são incomparáveis.


Após entender, de certa forma, o seu jeito, eu passei à reparar na forma que você se comporta:

No começo da manhã, até à noite, em que os tons azuis de céu iam ficando mais escuros.

Num pequeno filhote siamês, que foi crescendo com o passar dos meses.

Nos 10 segundos da virada de ano.

Até no padeiro da esquina, que começou à ter cabelos grisalhos.


Contudo, quero fazer um acordo com ti.

Deixe-me ter tempo para aproveitar cada batida do meu coração.

Eu não consigo mais agir apressadamente por medo de você levar as coisas que eu mais amo na vida.

Não aguento mais corridas contra o Tempo.

Tu tens me feito andar desesperadamente.

Há alguns dias eu havia brigado com o motorista lento à minha frente.

Você me deixou uma pessoa COMPLETAMENTE diferente.


Com isso, te peço tempo. 

Sim, ao Tempo. 

Preciso repensar nossa relação tumultuada.

Quero ser dona das minhas horas, dos meus minutos, ser consciente de minhas pausas.

Viver momentos que por você, foram sugados até o fim.


Só aí, pronta para o desfecho final.

O fim da minha existência.

Sabendo que, fui feliz em todos os meus 80, 90 ou até 100 anos da minha humilde vivência.


De: Camille Caetano

Para: O Tempo

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